Famalicão em Transição no I Congresso Ibérico sobre Energias Renováveis e Rede Natura 2000

A Associação Famalicão em Transição marcou presença no I Congresso Ibérico sobre Energias Renováveis e Rede Natura 2000, que decorreu em Mérida, de 20 a 22 de abril de 2023, e teve a organização a cargo da ADENEX e do CIDN - Conselho Ibérico de Defesa da Natureza.Tivemos oportunidade de intervir com a comunicação intitulada "Transição energética... A que custo?", num dos painéis do congresso, na qual apresentámos o caso da Central Fotovoltaica de Gemunde e do consequente crime ambiental no Monte Santa Catarina, assim como a nossa visão para a transição energética.

A intervenção completa pode ser visualizada aqui: https://youtu.be/B4UwjF6UtBY

Para além de diversos e importantes contactos estabelecidos com outras organizações e entidades participantes, de Portugal e Espanha, pudemos constatar que a pressão sobre os espaços naturais, mesmo as áreas protegidas, está num nível cada vez maior e insustentável em todo o território ibérico, em grande medida devido ao impulso desmesurado e mesmo irrefletido dado à instalação de grandes centrais fotovoltaicas e eólicas.Uma das principais conclusões do Congresso foi a de ser urgente uma paragem no avanço de mais grandes projetos de centrais eletroprodutoras, de forma a existir um planeamento muito mais ponderado e largamente participado (principalmente pelo movimento ecologista) sobre que caminhos queremos e devemos seguir quanto ao(s) plano(s) de transição energética.

Sobre o Dia Nacional dos Jardins (25 de maio) - Famalicão em Transição subscreve comunicado coletivo

SOBRE O DIA NACIONAL DOS JARDINS

A criação, pela Assembleia da República, do Dia Nacional dos Jardins (instituído a 16 de setembro de 2022), a celebrar anualmente no dia 25 de maio, data do nascimento do Arquiteto Paisagista Gonçalo Ribeiro Teles (1922-2020), foi ideia proposta sob forma de petição pública por um grupo de jovens estudantes de Portimão. Esta iniciativa foi dinamizada por um docente do ensino secundário, o Professor de Filosofia e de Cidadania e Desenvolvimento, Carlos Café, grande admirador de Gonçalo Ribeiro Telles.

A ideia, transformada em decisão pela Assembleia da República, foi aprovada por unanimidade por todos os partidos representados no parlamento, e pode ser vista como um bom augúrio. Todos os partidos, incluindo aqueles que têm sido governo desde 1974, sentiram-se vinculados a respeitar a obra do homenageado e a pôr em prática o seu ideário. Mas é forçoso ver tal unanimidade com alguma prudência e sentido crítico. São ainda muito comuns as situações, e algumas de grande gravidade, em que foi e continua a ser violado não só o espírito da obra do homenageado como ainda, não raro, a letra das leis de proteção do Território, da Natureza e do Ambiente, que a ele devemos, e aos que com ele colaboraram. Violações sempre apoiadas no suposto «interesse público».

Os parques, os jardins, as árvores estão, sem dúvida e de modo permanente, no cerne do pensamento e da ação de Ribeiro Telles. São, aliás, de sua autoria ou coautoria algumas obras paisagísticas em Portugal que mais se destacam nas últimas décadas. Mas no cerne do seu pensamento e da sua obra está também todo o território português visto na sua unidade e diversidade profunda, porquanto foi também promotor da REN – Reserva Ecológica Nacional e da RAN – Reserva Agrícola Nacional, que têm sido delapidadas ao longo dos anos. Esperemos que os promotores desta decisão da Assembleia da República, nas comemorações e ações que venham a pôr em prática, tenham em atenção não só a letra mas também o espírito de toda a obra, pensamento e ação do homenageado, e façam da criação desse Dia Nacional algo mais do que um verniz cosmético ou uma celebração oca e convencional, tão ao contrário do homenageado.

ARTE DOS JARDINS

Para Francisco Caldeira Cabral a arquitectura paisagista mobiliza simultaneamente a arte e a ciência ao aliar uma arte muito subtil a uma técnica muito apurada apoiada numa ciência vasta. Organiza-se o espaço para a criação de beleza para satisfação lúdica do Homem. Eram estas as razões que o levavam a insistir em incluí-la nas Belas Artes.

Celebrar a Arte dos Jardins como Património Natural e Cultural implica acabar com a nefasta prática, frequente na administração central e local, de utilizar jardins, parques e espaços arborizados como locais que se podem mutilar, agredir e até demolir impunemente a pretexto desta ou daquela obra.

Para evitar intervenções pesadas e destrutivas, incluindo a ocupação desses espaços com estaleiros de obras, deverá algum tipo de avaliação de impacte ambiental estar presente, tendo em conta as suas dimensões e caraterísticas, desde a conceção e não apenas quando já forem dados como irreversíveis trajetos, localizações e destruições ou mutilações de valores naturais, ecológicos e ambientais.

Importa igualmente sublinhar que, além da preservação do património em jardins e espaços verdes similares, é necessário criar novos jardins e espaços verdes em meio urbano. De facto, trazem consigo grandes benefícios por intermédio dos ecossistemas por eles criados, com relevo para a mitigação dos efeitos microclimáticos negativos das «ilhas de calor» nas cidades, da poluição atmosférica, funcionando como filtro e/ou barreira, e das, cada vez mais frequentes, épocas de seca, sem esquecer os benefícios que trazem para a saúde física e mental de todos. Por outro lado, através dos solos permeáveis que preservam e da criação de novos habitats para a flora herbácea e fauna que incentivam, criam uma proteção suplementar nos períodos de chuvas intensas e inundações, ampliando assim o «efeito de esponja» e de barreira à erosão do solo, cuja presença insuficiente foi bem evidente ainda no outono-inverno de 2022-2023.

A MODA DAS «REQUALIFICAÇÕES»

Embora a preservação de um jardim seja compatível com intervenções pontuais desde que no respeito do espírito originário que presidiu à sua conceção, sejam eles jardim de autor ou de tradição anónima, é necessário desincentivar a atual moda das «requalificações» quando destroem elementos integrantes e essenciais de jardins e de espaços ajardinados preexistentes.

Em alternativa às «requalificações» simplistas e abusivas deve ser incentivada a criação de novos jardins de raiz. As intervenções no que já existe devem respeitar o património vegetal já plantado, respeitando igualmente os direitos dos seus autores, em grau idêntico àquele que todos reconhecem aos autores de obras de Pintura, Escultura ou Arquitetura.

O SUPOSTO E O VERDADEIRO INTERESSE PÚBLICO

A destruição ou mutilação de jardins invocando declarações de suposto «interesse público» devia ser interditada e assumida como crime ambiental. O mesmo se passa com árvores e maciços arbóreos, seja por abate ou podas incorretas. Em teoria a nova Lei n.º 59/21 de 18 de agosto sobre o regime jurídico de gestão do arvoredo urbano deveria interditar tais práticas. No entanto, ela é muitas vezes interpretada de modo laxista pelas autoridades, incluindo pelo próprio Governo, que se atrasa na publicação de regulamentações essenciais à aplicação desta lei.

Nas comemorações do Dia Internacional da Paisagem ocorridas no Porto, Oscar Bressane, colaborador do arquiteto paisagista brasileiro Roberto Burle Marx, recordou que árvores e jardins não devem ser tratados como coisas de que se pode dispor a bel-prazer, mas antes com respeito, já que são seres vivos.

No que se refere ao conjunto do território, e à forma como é desrespeitada a necessidade de preservar ecossistemas e valores naturais, multiplicam-se igualmente as declarações de «interesse público» que contradizem a legislação nacional e até desrespeitam compromissos contraídos em acordos, convenções e tratados internacionais. Factos tanto mais graves quanto é urgente, na situação mundial atual de alteração climática, proteger a biodiversidade, reserva e fonte de carbono acumulado e reguladora da qualidade do ar, água e solo, de modo a mitigar os efeitos negativos de temperaturas e secas extremas.

Como forma de respeitar e homenagear Gonçalo Ribeiro Telles, o Dia Nacional dos Jardins devia servir para relembrar a necessidade de aumentar e requalificar as manchas verdes urbanas, tornando-as mais naturalizadas e biodiversas, e assumir a preservação destes espaços e dos ecossistemas naturais, como verdadeiro interesse público.


Subscrevem
associações, grupos e coletivos formais e informais, entidades, empresas:


A.C.E.R. - Associação Cultural e de Estudos Regionais

Academia Cidadã

ACRÉSCIMO - Associação de Promoção ao Investimento Florestal

ADACE - Associação de Defesa do Ambiente de Cacia e Esgueira

ADEP - Associação de Estudos e Defesa do Património Histórico-Cultural de Castelo de Paiva

AEPGA - Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino - Atenor

Aliança pela Floresta Autóctone

ALMARGEM - Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental
Alvorecer Florestal – Web e V. N. Gaia

APTS – Associação Portuguesa de Turismo Sustentável

ASPEA – Associação Portuguesa de Educação Ambiental

Associação Amigos dos Açores

Associação BioLiving

Associação de Defesa do Paul de Tornada – PATO

Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal

Associação Dunas Livres

Associação Vamos Salvar o Jamor

CADEP-CN - Clube dos Amigos e Defensores do Património-Cultural e Natural da Ilha de Sta Maria (Açores)

Associação Espaço VIPA 1051 – Matosinhos

Associação Evoluir Oeiras

Associação Famalicão em Transição

Associação ReflorestarPT - Regeneração Ecológica e Social

Associação Vimaranense para a Ecologia

Campo Aberto – associação de defesa do ambiente

Chão do Rio – Turismo de Aldeia - Travancinha, Seia

CIDAMB – Associação Nacional para a Cidadania Ambiental

CISMA - Associação Cultural – Covilhã

Clube UNESCO da Cidade do Porto

Colectivo HortaFCUL

FAPAS - Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade

Forum Amigos das Árvores - FAA

GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente

Glocal Faro

Grupo Olhar o Futuro com Ribeiro Telles

H2AVE – Associação Movimento Cívico para a Dinamização e Valorização do Vale do Ave (Riba de Ave)

Instituto Zoófilo Quinta Carbone – IZQC

Íris – Associação Nacional de Ambiente

Liga Portuguesa dos Direitos do Animal - LPDA

LPN – Liga para a Proteção da Natureza

MAPA – Movimento Académico de Proteção Ambiental – Universidade da Beira Interior

Movimento Bem da Terra – Felgueiras

Movimento Jardim Martim Moniz

Movimento Peticionário Rua Régulo Megauanha-Porto

Movimento por um Jardim Ferroviário na Boavista – Porto

Movimento Unidos pelo Rossio – Aveiro

MUBi- Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta

NDMALO-GE: Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro – Grupo Ecológico

Onda Verde – Associação Juvenil de Ambiente e Aventura

Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural

PCI – Paramédicos de Catástrofe Internacional

Plataforma em Defesa das Árvores

PUMI – Movimento Por Um Mundo Ideal

QUERCUS – Associação Nacional de Conservação da Natureza

Renovar a Mouraria – Associação

Rio Neiva - Associação de Defesa do Ambiente

Salvar o Jardim da Parada

SEA – Sociedade de Ética Ambiental

Slow Motion Tours - Porto

SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia

TAGIS- Centro de Conservação das Borboletas de Portugal

Tree Talk Gaia – Movimento pela Preservação de Espaços Verdes em Gaia Litoral

Verde – Associação para a Conservação Integrada da Natureza

ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável

Entrega da petição "Pela proteção do Monte Santa Catarina" na Assembleia Municipal de Famalicão

No passado dia 11 de maio de 2023, foi apresentada, pela Mónica Oliveira, a entrega da petição "Pela proteção do Monte Santa Catarina" na Assembleia Municipal de Vila Nova de Famalicão.
Na resposta dada pelo Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Mário Passos, foram reveladas informações importantes acerca de avanços por parte do Município no sentido das pretensões propostas na referida petição.

No seguinte breve vídeo apresentamos um resumo do essencial:
https://youtu.be/vWcz8qX9p5Y

Pode ser (re)vista a sessão completa da Assembleia Municipal na seguinte ligação:
https://www.youtube.com/live/kNhYtuSZWX4?feature=share&t=6060
(a intervenção completa da Mónica Oliveira, assim como as respostas do Presidente da Câmara, podem ser vistas a partir da 1h41m)

Deixamos de seguida o texto completo da intervenção efetuada:
""Recentemente, o nosso Concelho sofreu uma grande perda ambiental. Em nome da transição energética permitiu-se o abate de quase 300 sobreiros, estes que faziam parte da maior mancha de sobreiros do Concelho. Além disso, destruíram-se habitats naturais, património ambiental, um local de memórias e de partilhas em família, assim como décadas de regeneração natural do solo, cujos impactes são difíceis de calcular.
Nós, as cidadãs e os cidadãos famalicenses abaixo assinadas/os, defendemos que a resposta às alterações climáticas e a transição energética não podem acontecer à custa de mais prejuízos para o ambiente.
Assim posto, solicitamos a Vªs Exas que desenvolvam esforços no sentido de criar um parque florestal protegido no Monte de Santa Catarina e terrenos adjacentes, protegendo os aglomerados de sobreiros existentes e criando, paralelamente, uma floresta autóctone. A isso acrescentamos a reposição do coberto vegetal na área conhecida como o Penedo da Lua (ou meia Lua) e nas encostas adjacentes, garantindo o acesso público ao local."
Assim está escrito na petição entregue.
No passado ano, assistimos a um abate massivo no nosso município, com o corte de uma área florestal e de matos de 80 hectares, o equivalente a 80 campos de futebol e a destruição de habitats naturais, tudo isto para a implantação de uma central fotovoltaica.
Estamos a falar de uma das áreas mais emblemáticas de Famalicão, numa localização que é o “pulmão verde” do nosso concelho, da qual fazem parte muitas memórias e a qual ficou seriamente comprometida.
Os cerca de 300 sobreiros e os carvalhos que foram, oficialmente, abatidos, eram mais do que meras árvores. São parte integrante do nosso património ambiental e viram as nossas aldeias a crescer, a desenvolverem-se, a tornar-se aquilo que conhecemos hoje.
E com todas as mudanças que Famalicão foi somando, estas árvores aqui se mantiveram e resistiram a dias que desafiavam a sua própria sobrevivência. Contribuindo para a fixação de carbono nos solos, para a regulação da temperatura e do ciclo hidrológico e servem de habitat para toda a fauna envolvente e claro, muito mais que isso.
Enquanto cidadãos, defendemos que a transição energética deve acontecer, mas não com o sacrifício ambiental e ecológico. Cerca de 40% do território do concelho já está artificializado, portanto torna-se crítico salvaguardar e preservar as áreas verdes, as árvores, o solo fértil, os ecossistemas e a biodiversidade, que são já um bem escasso, mas ainda são a garantia de um futuro sustentável.
E, portanto, num município que se diz verde, é imperativo criarmos alternativas a estes
cenários e priorizarmos mas também protegermos as nossas zonas verdes, bem como, criar espaços protegidos para que todos possamos usufruir.
Por isto e muito mais, e porque o que já aconteceu de muito negativo não é irreversível nem irreparável, esta petição materializa a vontade dos Famalicenses em preservar e proteger o Monte Santa Catarina e regenerar as áreas já afetadas.
Os famalicenses estão a fazer-se ouvir, queremos ser incluídos nestes debates e a mensagem é clara, não queremos sacrificar os últimos espaços florestais no nosso Município.
Gostaríamos de saber se o Sr. Presidente vai considerar e ouvir este pedido dos famalicenses e qual será a resposta do executivo à proposta de criar o Parque Florestal do Monte da Santa Catarina e se vai considerar reverter a área do Penedo da Lua devolvendo-o à população com a devida recuperação da paisagem e coberto vegetal?".